A nova resolução da Aneel sobre segurança de barragens provocou uma busca de novas soluções por parte dos empreendedores, a fim de garantir o cumprimento de suas exigências e recomendações. O 1° Summit de Segurança de Barragens, realizado pela MC Bauchemie e Sultec, nos dias 14 e 15 de setembro, em Florianópolis, mostrou que começa a se desenhar um novo futuro na gestão de barragens de hidrelétricas no Brasil. Além de intensificar o treinamento e a capacitação de pessoal, os empreendedores estão em fase de desenvolvimento de tecnologias inovadoras, investindo igualmente em Pesquisa & Desenvolvimento e treinamento de pessoal, tudo com o objetivo de melhorar a segurança de barragens.
O engenheiro José Marques Filho, especialista em barragens e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que participou com mediador do evento, defendeu o compartilhamento de informações entre os atores do setor, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de qualificação de profissionais, que define como uma das principais carências no país.
Certificação para engenheiro de barragens
Para Marques, diante da alta relevância do tema, seria importante criar um certificado para os que lidam com a segurança de barragens. “O Brasil é expoente mundial em tecnologia de barragens, mas está faltando treinamento aos alunos nos cursos do MEC, a fim de ajustar a competência nessas estruturas. Muitos cérebros foram perdidos e, às vezes, os métodos de construção não são os mais adequados. Por isso, defendo a certificação profissional de quem trabalha com barragens”, acrescentou.
Para a obtenção desse documento, segundo o professor, o aluno da Engenharia faria um estágio, ou residência, como na Medicina, o que o habilitaria ao exercício profissional em obras de estruturas de barragens. “O fato é que, nos últimos 25 anos, os cursos de Engenharia no Brasil perderam em muito a qualidade, e isso implica em criar regras para que os jovens se desenvolvam de forma a tornarem-se profissionalmente cada vez melhores.”
Subestimar as boas práticas de engenharia e não seguir as normas técnicas da ABNT são fatores que estão sendo frequentemente negligenciados nas obras de barragens, afirmou o engenheiro Raphael Holanda, da Holanda Engenharia (RJ), em palestra sobre ‘Inspeção, diagnóstico, prognóstico e tratamento de patologias em barragens’.
De acordo com Holanda, o que predomina hoje no setor é a opção pelo menor preço e prazo. A qualidade vem em último lugar. “Esse é o ponto da questão: deve-se buscar o ‘melhor preço’, em vez do ‘menor preço’, afirmou.
Segundo ele, neste entendimento, está implícito que os preços devem ser analisados após a criação de um ‘ranking técnico’, qualificando as empresas e serviços que vão participar desta concorrência. Caso não seja feito isso, observou, os riscos são elevados, tanto de natureza técnica, como perda na qualidade e durabilidade, como também na esfera contratual, como na inaptidão para o serviço, rescisão contratual ou paralisação da obra.
Nova norma
Ricardo Abrahão, geólogo com mais de 52 anos de atuação no setor, questionou a forma como a estabilidade das barragens está sendo calculada. De acordo com ele, agora que estão sendo feitas revisões de segurança, as barragens precisam ser recalculadas. Ocorre que, para recalcular, têm sido usadas as cargas do critério de projeto, o que não é real, porque a avaliação é sobre o desempenho da estrutura e tem de ser feita com base nas informações da instrumentação. E a instrumentação mostra que as formas de cálculo precisam ser melhoradas porque algumas cargas reais aplicadas são muito inferiores ao critério de projeto.
Para o especialista, já passou da época de fazer uma reanálise disso, a fim de evitar que os donos de obras gastem dinheiro à toa, porque muitos desses cálculos que estão sendo feitos estão impondo modificações apenas para atender ao critério de projeto. “Uma das formas de resolver, no Brasil, seria mudar o critério de projeto ou mudar as recomendações; a responsabilidade de instituir uma nova norma caberia à ABNT, o que está em andamento”, concluiu.
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